Os cemitérios, além do seu significado sentimental e humano, são uma valiosa fonte de informações históricas e um vínculo importante com o passado. Quer para indivíduos ou instituições.
Durante o período colonial não havia cemitérios no Brasil. As pessoas geralmente sepultavam seus entes queridos sob o piso ou nas paredes das igrejas e dos conventos. A partir de 1828, por razões de saúde pública, começaram a surgir leis que determinavam a criação de cemitérios municipais, que só começaram a ser usados em 1850.
Sepultamentos
Antigamente em Canindé, os sepultamentos ocorriam na Capela de São Francisco das Chagas, hoje Basílica. O uso do hábito fúnebre consta em muitos testamentos e nos registros de óbitos que mencionam a particularidade da Mortalha Franciscana, observando esta tradição que acontecia nos sepultamentos na Igreja de São Francisco das Chagas de Canindé. Podemos constatar no LIVRO DE ÓBITOS Nº 01 da paróquia documentos que registram que aos 20 de abril de 1804, enterrou-se na Capela São Francisco, Francisco Félix, Revestido de Hábito branco.
Constando outros sepultamentos nas mesmas condições sendo que algumas pessoas eram sepultadas das grades para cima e outras das grades para baixo ou nos corredores da capela, como por exemplo: Antônio dos Santos Lessa/ tronco da família Santos Lessa/Fazenda Campos.
Sepultaram na Igreja de São Francisco das Grades para cima, Floriana, faleceu em 05 de Maio de 1823, sepultada na Igreja de São Francisco, das Grades para Baixo.
Registro de óbito de Simão Barbosa Cordeiro: aos seis de janeiro de mil oitocentos e vinte e seis faleceu hidrópico, tendo recebido todos os sacramentos. Simão Barbosa Cordeiro, branco, de idade de setenta e dois anos, casado com Dona Mariana Francisca de Betancort, moradores nesta Freguesia do Canindé, foi sepultado nesta Matriz de grades para cima, envolto em hábito de Terceiro de S. Francisco e encomendado pelo Padre Manoel Vieira. E para constar, abri este assento e me assino. O Vigário Francisco de Paula Barros.” (Livro de Óbitos n° 1 da Paróquia de São Francisco das Chagas, Arquivo da Arquidiocese de Fortaleza).”
Livros de óbito
Nos livros de assentamentos de óbitos da paróquia de Canindé, o teor do termo de óbito de Antônio José Moreira Gomes, assim escrito: aos 21 de fevereiro de 1823, faleceu assassinado com um tiro de bala e munição sem sacramento o Capitão Mor Antônio José Moreira Gomes, Cavaleiro Professor da Ordem de Cristo, solteiro, natural de Portugal, idade de 75 anos, morador na vila de Fortaleza, que apouco nesta Freguesia residia, foi sepultado na Matriz de São Francisco da Chagas de Canindé das Grades Para Cima, vestido em hábito de cor branca, este Assento Assinado pelo Vigário Francisco de Paula Barros-(livro de óbitos iniciado em 16 de maio de 1819 e encerrado a 18 de Setembro de 1870, fls.23 v.).
Outros que sepultaram na Igreja de São Francisco: no ano de 1899, Frei Abel de Brignano Gera (bérgamo) ainda estudante obteve a permissão de vir ao Brasil. Enviaram-no ao Convento de Canindé para completar os estudos e preparar-se para o trabalho missionário. Logo que recebeu a ordenação diaconal, enquanto acalentava os ideais de servir plenamente no vasto campo missionário, veio a falecer tragicamente ao tomar banho de madrugada em um açude na vila Canindé. Encontraram seu corpo algumas horas depois. Foi o primeiro frade capuchinho a ser sepultado na Capela de São Francisco. Frei Abel faleceu aos 23 Anos de idade.
Súplica pelo cemitério
Não havia o costume de fazer cemitérios por aqui e os moradores queixavam-se: ”temos levantado uma boa igreja para nela sermos enterrados o que antes era no campo” (súplica do povo de Canindé á dona Maria I, 1796) ”somos ennterrados como brutos” (requerimento do povo de Canindé ao (Governador, 1816); ”vivemos e morremos como se fôramos hereges” (súplica de 1796).
A súplica dos habitantes da Povoação de Canindé data de 1796, dirigida aos senhores do nobre Senado da Câmara da Vila de Fortaleza de N. Senhora Da Assunção: os moradores da Ribeira de Canindé, mencionam a importância da Invocação da Capela de São Francisco da Chagas para nela serem enterrados, o que antes era no Campo.
(Fonte livro Frei Venâncio , 153 )
Construção do cemitério
Construíram o primeiro cemitério da vila Canindé num contexto de higienização na segunda metade do século XIX. No Livro, Frei Venâncio relata que em 1853 já existia na vila Canindé um Cemitério Paroquial, feito ao certo em atenção a lei pouco antes decretada que proibia os sepultamentos nas Igrejas.
(Fonte livro de Frei Venâncio, 123)
Já no livro ( Hélio, 31). Relata que em 9 de agosto do ano de 1855, Dom Joaquim Vieira dá licença para ser bento o primeiro cemitério na vila Canindé ( Hélio,31).] O certo é que consta nos Arquivos da Secretaria da Paróquia de São Francisco um Livro de Registros de Óbitos da Freguesia de Canindé datado de 1853 a 1874 que vem a confirmar que o primeiro cemitério público de Canindé passou a existir a partir de 1853.
No relatório paroquial de 05 de Junho de 1872, o vigário Pedro Alvares de Araújo informa ao presidente da Província Exmo; .João Wilkens de Matos que existem dois cemitérios na Vila Canindé, dos quais um está inutilizado desde que nele se fizeram inumações de pestíferos e o outro que está servindo, por isso, não se ressente por ora de necessidade alguma urgente. Assim também, deve-se notar que existem mais três cemitérios, dois nas povoações de São Gonçalo e Caiçara na Serra do Machado e outro numa pequena povoação do sertão de Canindé, denominada Serra Branca, os quais estão em péssimo estado de conservação, tendo sido feitos os cercados de madeiras e estas se tendo naturalmente estragado com o tempo, por consequência, estão servindo de pastagem dos animais. E o quanto se me oferece informar a V. Exa; em cujo zelo e profunda sabedoria esperam as mais prósperas e sábias providência. Livro Frei Venâncio, 182 ( Hélio Pinto, 93.)
Nosso inesquecível historiador canindeense, Francisco Magalhães Karan (Chico Karan) revela segredos sobre a primitiva casa dos mortos da Vila Canindé: quando em junho de 1955 o vigário da Paróquia de São Francisco, Frei Policarpo Cornéllius, mandou fazer uma reforma no patamar da greja de Nossa Sra. Das Dores. Com a escavação e remoção de dezenas de metros cúbicos de terra, para o afastamento do patamar, muitos ossos fragmentados foram encontrados, vendo-se, desse modo, vestígios do velho cemitério, comprovando que ali, em eras remotas existiu um cemitério que serviu durante muitos anos, para o enterro dos mortos da antiga vila de Canindé. Sendo que este somente fora extinto para dar lugar a construção do atual templo católico, no ultimo quartel do século dezenove.
Patrimônio histórico
O cemitério São Miguel em Canindé, em meio a tantas lápides, há a necessidade de perpetuar esse bem para que enriqueça ainda mais a nossa história. Sendo ele, portanto, um item a mais dos nossos ícones edificados históricos e, assim, ampliando nossas mentalidades um pouco mais é que iremos ter respeito pelo que é nosso. Por conseguinte, tendo ações como estas é que seremos também respeitados como cidadãos.
O cemitério São Miguel conserva parte de sua estrutura antiga, a exemplo das fachadas dos muros e portões de entrada, bem como diversos túmulos antigos juntamente com a capela que ainda resistem ao tempo. Apresentando uma arquitetura que remonta ao século XIX e que possui valor histórico, logo, podemos considerar seu potencial histórico. É importante ressaltar que construíram o cemitério São Miguel num contexto de higienização da vila de Canindé na segunda metade do século XIX.
Fonte- Livro de óbitos da Paróquia de São Francisco, Livro Cronologia Canindeense Hélio Pinto Vieira, Livro Frei Venâncio São Francisco de Canindé, Província São Francisco das Chagas do Ceará, Cartório São Francisco.