Deparo-me com alguns apontamentos que fiz no inicio do milênio quando realizava pesquisas que veio a dar origem ao meu primeiro livro “Viagem Pela História de Canindé”. Quando Chico Karam faleceu, em julho de 2001, eu já tinha muitas informações mentais e outras em apontamentos sobre a história local, mas não me passava na mente escrevê-lo.
Não havia assunto sobre a história de Canindé que Chico Karam não dominasse, estar diante dele era como ter nas mãos uma enciclopédia da história local. Com a sua partida percebi mais claramente que grande parte da nossa história foi sepultada com ele, haja vista não ter registrado em livro o seu vasto conhecimento.
Foi pensado nisso que emponderei a tarefa de transformar tudo o que eu já tinha de conhecimento sobre Canindé, em livro. Com a partida de Chico Karam, meu informante oficial passou a ser o seu Luiz Pereira, que faleceu aos 102 anos em 1908, em plena lucidez e de memória privilegiada. Parte das informações deste texto vieram dele, se bem que nem faz parte do meu livro, tentarei encaixar na edição revista e ampliada que está em andamento.
Disse-me ele que após a conclusão do Açude de General Sampaio, onde trabalhou em um fornecimento pertencente ao Sr. Chico Pessoa, ao regressar, iniciou o ofício de sapateiro até que em 1936, abraçou em definitivo a profissão de motorista, em princípio dirigindo carro de terceiros, até poder comprar seu próprio carro. Diariamente ele se deslocava até Itapiúna levando e trazendo passageiros que vinham de trem até aquela localidade, conduzia também pequenas quantidades de mercadorias, pois os carros daqueles tempos eram muito frágeis, para se ter ideia, os aros eram de madeira.
Logo que alguns poucos da comuna adquiriram os primeiros veículos, verificou-se a demanda por combustível, gasolina, naqueles tempos não se falava em “diesel” que somente surgiria anos depois com o nome de “óleo cru”.
O pioneiro na venda foi o Virgílio Cruz, maior comerciante do Mercado Velho da Praça Azul. A gasolina vinha em galões de 20 litros e estes vinham em fardos gradeados de madeira. Cada fardo continha 4 latões. Um por um, os fardos eram trazidos para o comércio e repostos quando vendidos. Quando os galões vazios passaram a ser estocados surgiu um subproduto que as pessoas compravam para mandar confeccionar bacias e outros utensílios pelos antigos “flandeiros”.
Com o aumento do número de carros e da demanda, Virgílio Cruz instalou o “Posto Azul”. A gasolina já não mais vinha em latas de 20 litros, mas em tambores de 200 litros. Modernizou um pouco, surgiram as primeiras bombas, composta de uma coluna metálica que camuflava um sistema de bombeamento,e sobre esta, formando um só corpo, um recipiente de vidro tracejado, que marcava a quantidade de combustível. Assim, o freguês dizia quantos litros queria e o funcionário do posto, bombeava através de uma alavanca o combustível, do tambor para o recipiente transparente até atingir o volume desejado, que posteriormente era liberado, por gravidade, até o tanque do veículo.
Posteriormente o comerciante Miguel Gomes dos Santos, passou a vender o produto, instalou uma dessas bombas onde hoje é a Praça Leôncio Macambira, mas terminou por desistir.
Após a construção do Mercado Novo da Praça Thomaz Barbosa, o comerciante Cesar Campos entrou no ramo de combustíveis, construindo um posto de primeira linha, que carregava a marca consagradora de todos os seus empreendimentos. Não gostava de improvisos e tudo que fazia era dentro da maior perfeição, invariavelmente equipado com o que havia de mais moderno, foi o embrião da rede de postos “Canindé”. Foram estes os pioneiros deste ramo promissor.
Histórico das Fotos: 1 – Stand de vendas da Casa Cruz ( A fotos é mais recente, na época já estava desativado). 2 – Antiga foto do Posto Azul. Repare que tem uma bom mais antiga (vidro) e uma mais moderna. – Anos 40. 3 – Posto Azul, anos depois. 4 – Posto Canindé. 5 – Na foto divisa-se assinalada a antiga “bomba de gasolina” instalada pelo comerciante Miguel Gomes na atual Praça Leôncio Macambira, esquina com a Rua João Pinto Damasceno.
Autor: Augusto César Magalhães