Em 04 de outubro, além de ser o dia do nosso Santo Padroeiro, Canindé tem outro grande motivo para celebrar: a libertação de seus escravos. No dia 04 de outubro, Canindé completou 138 anos da libertação dos nossos escravos. Isso mesmo, Canindé libertou seus escravos no dia 4 de outubro de 1883, enquanto o Ceará como um todo aboliu a escravatura em 25 de março de 1884 e o Brasil no dia 13 de maio de 1888.
Sabe-se que Redenção foi a primeira do Ceará e do Brasil a libertar seus escravos no dia 1º de janeiro de 1883, quando foram libertados seus 116 escravos remanescentes. Canindé poderia muito bem ter sido a primeira cidade até porque nosso número de escravos era mais significativo. Na data da libertação, tínhamos um remanescente de 216 destes. Houve um Recenseamento em 1860 em Canindé, dando conta de que nossa população era de 9.374 habitantes dos quais 464 escravos. A nosso favor tínhamos o nosso respeitável abolicionista, Antônio Cruz Saldanha, membro fundador da Sociedade Libertadora “Perseverança e Porvir”. Pelo que se sabe não havia em Redenção nenhum membro dirigente das sociedades libertadoras diretamente envolvido com o lugar. A caravana libertadora iria atingir a Serra de Baturité, então grande produtora de café, que muito utilizava a mão de obra escrava; em termos atuais, o que fizeram em Redenção, que era caminho, seria uma espécie de ensaio, uma questão estratégica.
Canindé por aqueles tempos, muito embora houvesse a dificuldade de transporte, já contava com uma enorme visitação de romeiros de toda parte do país nos festejos alusivos a São Francisco. Portanto, a Meca Franciscana era um local privilegiado para, no dia do padroeiro, na presença de pessoas de todos os rincões, haver a cerimônia de libertação dos escravos, como forma de levar a mensagem desta insurreição libertadora além fronteiras. Registramos esse efeméride no nosso livro “Viagem pela história de Canindé”, páginas 85 a 91, eis um pequeno trecho:* A multidão primou pela atenção. Pediam silêncio no interior da igreja, ocasião em que o Pe. Manoel Cordeiro da Cruz, afamado orador sacro, declarou solenemente:” Por iniciativa particular, a população do município de Canindé usando da soberania que a consciência do direito de solidariedade humana e fé católica, apostólica e romana outorga aos seus filhos diletos, representados pelos homens mais proeminentes desta cidade e dos campos, resolveram tornar livres todos os escravos existentes neste município e juram, em nome de Deus, diante do altar de São Francisco das Chagas, pela sua honra e pela sua fé, que, mesmo com o risco de perder a vida, a liberdade e os bens, manter o município e Canindé livre, onde desta data em diante, não haverá mais escravos. Viva a liberdade, Viva Canindé, Viva São Francisco das Chagas”.Em seguida todos os presentes se dirigiram ao pátio da Matriz e os 216 cativos que aguardavam na parte inferior, sem ter a exata noção do desfecho daquele “Te Deum”, ouviram a notícia pela voz embargada do vigário, Pe. Manoel Barbosa Cordeiro. Momento de emoção, choro e festejos. Assim Canindé, inspirado nos ideais franciscanos, deu por extinta a escravidão nestas plagas.
Em tempo: a arma utilizada pelo movimento libertador era a retórica, o convencimento aos proprietários de escravos a alforriar. Eles não tinham poder para simplesmente decretar as alforrias. Mas faziam pressão de natureza humanista e apelava para os valores da religião, havia muitos membros do Clero engajado. Quando a semente caia em terra fértil era mais fácil. Canindé tinha essa semente libertadora, apenas como exemplo cito o Cel. João Pinto Damasceno que havia alforriado os seus desde 1877.
Autor: Augusto César Magalhães