Desde a conclusão na primeira igreja de São Francisco em Canindé, no ano de 1796, sempre houve movimento de pessoas a esta terra e que de uma forma ou de outra precisavam se “arranchar”. Pelas leis da economia, quando surge uma demanda há sempre alguém com o intento de supri-la em busca de ganho. Portanto a presunção é de que havia sempre aquelas pessoas dispostas a abandonarem suas casas em período da Festa de São Francisco, acomodando-se em outras mais distantes ou junto com parentes para assim poder alugar o imóvel temporariamente.
Sabe-se que a família “Custódio” foi uma das pioneiras nas velhas pensões do antigo Alto Guaramiranga, hoje rua Joaquim Custódio. A primeira hospedaria com o nome de hotel, presumivelmente foi o “HOTEL GLOBO”, um imponente casarão que foi construído pelo Capitão Pedro Sampaio no final do século XIX.
Meu amigo, odontólogo e escritor, Dr. Erivaldo Façanha, no seu livro” História dos Cafundos” fala de uma interessante passagem relativa ao assunto, em que foi protagonista o seu avô João Neco Barreto. Ali esta relatado a vinda da família Neco do Crato para Canindé composta de Antônio Araujo Barreto (Antônio Neco) e suas três irmãs. Antônio Neco fixou residência em uma boa casa que construiu do outro lado do rio na rua que hoje leva seu nome. Ele era tio e padrinho de João Neco e o tinha como filho adotivo. Foi nessa casa grande, alpendrada e com vários quartos que João Neco iniciou sua primeira pensão. Com a morte do padrinho teve que entregar a casa aos legítimos herdeiros.
Naqueles idos o velho Hotel Globo, estava em decadência e fechado. O Capitão Pedro se dispunha a vender o prédio por seis contos de réis. João Neco convenceu-o a vender-lhe em seis prestações anuais, iguais e sucessivas de um conto de réis a serem pagas no dia 5 de outubro de cada ano, após os festejos de São Francisco. Mudou o nome para “Pensão Neco” e ali conseguiu soerguer-se financeiramente.
Um fato interessante é que quando se divisava as antigas fotos do Hotel Globo a presunção é de que a entrada era pelo lado do Rio. De fato, estranhamente o era, conforme afirma Hélio Pinto na sua Cronologia Canindeense. Posteriormente é que a entrada passou a ser pela Rua 29 de julho como o é.
No final dos anos 1970, o advogado Jose Ribeiro Lobo, comprou a velha pensão dos herdeiros de João Neco. Manteve grande parte da imponência do velho casarão, reforçou as estruturas, modernizou o que era necessário e transformou em hotel de primeira linha, dando o nome de “Hotel Tio João”. Atualmente é o “Aquarela Palace Hotel”, um dos cartões postais da cidade, pertencente a família do ex-prefeito Glauber Monteiro.
Autor: Augusto César Magalhães